Monday, January 1, 2007
Sem véus ou lantejoulas
Eu quero um poema
“quem eu quero não me quer”
Sem véus, lantejoulas
Rãs, borboletas e outros seres românticos e inúteis
Sem sapatilhas,
Sem rouge, sem brilho, sem paixão
Sem rima
Com dor de barriga,
cólica menstrual
Inveja, ciúme, frustração
Latas de sardinha enferrujadas
Garrafas de plástico flutuando nos rios
Dor de dente, calcinha furada
Chiclete preso no sapato
Buzinas,
homens mal-educados
roubo de merenda escolar
Eu quero um poema
brega
desengonçado
maltrapilho
Cheio de muriçoca
barata
meleca e casca de ferida
Sem eira nem beira,
Sem ginga
Sem lirismo
Sem paciência ou piedade
Sem esperança
Eu quero um poema assim, humano,
Com preguiça de escovar os dentes
de olhar pra lua
e de dizer boa noite
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8 comments:
i bom mesmo. D+ o final é sem palavras - perfeito. Pronto
Um pouco de tudo tem nesse mundo de meu Deus. Mistura de mel com terra. Concreto e abstrato, contrastes. Poema sem medo. Como tudo o mais que sai de você.
Acho que nasceu de parto natural em plena floresta, à beira de uma cachoeira de águas inquietas. Uma cachoeira num lugar sem nenhuma fronteira. De onde você é? Para onde vai? Enigmas = Bernadete.
Bernadete,
Também sou Sumehriana e encantei-me com seu blog, mais ainda com sua poesia.
Sou errante pras bandas da "capitá federá", há dez anos, aqui, como em Campina alguns amigos espeirituosos e "civilizados" também me chamam de sumeriana.
Um grande prazer ler você.
Beijos
Por menos que você queira ser lírica ou romântica...
Por mais que você, em sua crueza, incite à negação da hipocrisia...
Por tudo o que de complexo
você delega à simplicidade...
Amo sua poesia!
Qual enigma...qual nada...
Essa é Bernadete!
Ela é assim mesmo do jeito que escreve...
como se cuspisse
no chão ou na cara
Tanto faz.
Ela é assim mesmo do jeito que sorri...
como se abraçasse você
assim de surpresa por tras.
Esse é um dos tantos poemas teus que ainda vamos conhecer. Que tal mostrar mais um para nos dar um pouco mais de chance de te ver entre as metáforas?
Um poema feito pra você:
NAS TRILHAS DO SER
Esquece as dores
E o veneno
Que roubaram de teus olhos
O sono sereno
Escuta o som do deslizar do tempo
No ritmo lúcido de teu movimento
Ao redor da vida,
Em busca da essência
Recolhe a verdade,
Fina transparência
Que reluz no espelho, o rosto da alma
Quieta, embevecida,
A decifrar sozinha todos os enigmas
Mistura a saudade do teu filho ausente
ao grito da vitória merecida
E segue em frente,
como a luz que não esconde o próprio brilho
Conduz teu olhar ao que faz mais sentido
Enquanto caminhas pelas sendas do destino
E crê que lá adiante, está à tua espera,
Tua parte mais linda!
Para Berna
Reencontro
Agora que as crianças dormiram
Aquele sono de infância que
nossas memórias guardam
podemos, desde nosso silêncio
ocidentalmente ocupadas
recuperar liames
enquanto pessoas amadas.
Amor jamais corrompido
Pelo tempo passado
Entre um encontro e outro...
Jamais consumido
No cotidiano desencontrado
De pessoas alheias
Ou definhantes sentimentos
Na hipocrisia pautados...
Não...não fomos nós!
Agora que as crianças dormiram
Permitindo aos adultos a deixa
De buscar seus próprios cerrados,
Vamos nós por em dia
Da nossa vida o regaço.
Vamos nós de alegrias
Preencher o terraço
Da casa que não conhecemos
Que não construímos
E que talvez... tanto quisemos.
Projeto presente em cada sono
Cada sonho comunitário
Que para além
De qualquer chavão revolucionário
Era parte de quem re-parte
Por um devir visionário.
Sim...fomos nós!
Agora que as crianças dormiram
Que se nos cheguem
Todos os tempos e palavras não ditas
Que se preencham todos os espaços
Dos quais a vida
Com seu bom(?) senso nos privou.
Que se nos cheguem
Todos os viajantes que nem cumprimentamos
E que menos ainda amamos.
Que se nos cheguem
os tempos de hoje... surrealista pintura
como os ventos que levam os invernos
como os amores que aliviam os infernos
como as dores que obrigam à cura!
Sim...somos nós!
Agora que as crianças dormiram
Que os homens se foram
Em sua busca insana
À procura do nada
É nossa vez de,
Assim como é sangrar
Uma vez por mês,
Permitir à palavra a fluidez
E ordenar a emoção do pensamento
De maneira que de agora em diante
E até o fim dos nossos tempos
Nenhuma lacuna
Ou estanque momento
Venha nos fazer lamentar
Quando uma ou outra
Parar de respirar
Em rendição à vitória do tempo.
Lúcia Couto
Deixo para Berna uns poucos versos...
NO LIMIAR DO OLHAR
TEU OLHAR VAI LONGE, LONGE, MUITO LONGE
AOS LUGARES ERMOS QUE NINGUÉM ALCANÇA
NA RÉSTIA DE UM SONHO À VIDA SE LANÇA
PRA VER ACONTECER O NOVO EM CADA INSTANTE
AO MESMO TEMPO EM QUE SE TORNA ESPELHO
AO REVELAR O MAL-ESTAR DO MUNDO
AMA, FAZ PRECE E CURA DE QUEBRANTO
ACALMA TANTO QUANTO O OLHAR DE UM ANJO
SE CORRE À ALMA, PENETRA E CONSTRANGE
DESNUDA A PASSAGEM ENTRE UM E OUTRO MUNDO
MAS, JAMAIS SE ENTREGA, APENAS ESPREITA,
LÁ DE MUITO LONGE, LONGE, MUITO LONGE...
FRAN 6/10/08
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